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sexta-feira, 9 de maio de 2014

Rótulos

Rótulos, relacionamentos, essência, vida - www.samuelbonette.blogspot.com
Há uns dias atrás estava com alguns amigos meus em um uma hamburgueria, conversando. Após um determinado tempo, nos despedimos deles e a Bibiana fez um comentário sobre um deles, conhecido de longa data. Ela disse: “Fulano de tal é inteligente”. 

Após alguns segundos em silêncio, no qual fiz uma rápida recuperação mental dos assuntos que estávamos conversando, embora não discordasse dela, de forma alguma, não me ocorreu nada de espetacular que o mesmo tivesse dito nem assunto algum que pudesse ter ocasionado tal observação, uma vez que estávamos conversando assuntos corriqueiros, próprios de momentos de descontração. Curioso, perguntei então, porque ela chegara aquela conclusão ou fizera a observação naquele momento, ao que a mesma respondeu: “Os assuntos sobre os quais ele fala são interessantes, não me cansam, não são rasos”.

Para mim foi interessante e inesperada a observação feita. Pensei em quanto tempo, durante minha vida, não tive um olhar apurado para identificar características das pessoas. Não se trata de distinguir ou julgar o bom e o mau, o inteligente e o ignorante, o maldoso e o (sabe de nada) inocente, o competente e o incompetente, definitivamente. Antes, é conhecer, pelas ações e pelas decisões, ao longo do tempo, as características que as pessoas tem. Lembro que em 2010, findo um dia de trabalho, um colega da época me fez uma série de observações sobre outros colegas, relacionando ações que tinham tomado com características que tinham; naquela época me surpreendi porque até então nunca havia pensado desta forma sobre as pessoas. Basicamente não pensava sobre isto e as observações que ele fez me abriram um mundo de novas possibilidades, onde as ações das pessoas não ocorriam de forma desordenada ou aleatória, mas sim seguindo padrões de comportamento de acordo com suas características.

Entretanto, é tentador pensar que, por conhecer as características ou verificando as ações que as pessoas tomam, podemos conhece-las por completo ou conhecer suas intenções, de forma clara, distinta e infalivelmente correta. Destas avaliações muitas vezes extraímos conclusões e acabamos por rotular as pessoas, dizendo que o João é preguiçoso, a Maria é ingênua, o Pedro é insensível e assim por diante. Além de tentador, pode ser um tremendo erro e uma subestimação do ser humano, um ser com tanto potencial e possibilidades de melhorar, se regenerar, reinventar, eventualmente “tornando-se outro ser”.

Atualmente estou lendo o livro (bastante interessante e de leitura recomendável, diga-se de passagem) Conversas difíceis, que aborda, entre outras questões, os nossos julgamentos sobre as intenções de outrem. É inegável que a questão da “rotulação” acima descrita é característica congênita do ser humano, podendo ser verificada até mesmo em crianças e não é de todo ruim, pois através deste conhecimento podemos nos resguardar de algumas pessoas e nos precaver de seus comportamentos destrutivos; porém, como tenho abordado desde o início do texto, são características que as pessoas possuem; as más podem ser melhoradas, as boas podem se deteriorar e se extinguir, outras podem nos incomodar em um momento e noutro momento não fazer diferença, ou ser aceitáveis num grupo e noutro grupo não, enfim, infinitas possibilidades.

Obviamente que temos padrões dentro da sociedade do que é aceitável ou não, ético e anti-ético, moral e imoral, legal e ilegal. Porém, muitas vezes a questão é de aceitação do outro ser humano que, mesmo tendo cometido um ato totalmente perverso, ainda assim continua sendo um ser humano, tão sujeito a erros, acertos, necessidades físicas e emocionais quanto qualquer outro. Por vezes substituímos a compaixão pelo próximo por nossa sede de vingança travestida de sede de justiça; esquecemos que hoje é ele que está na cadeira dos réus, amanhã pode ser eu ou tu, e um dia seremos todos nós, indistintamente. Na linha de pensamento de um ditado popular, quando nos acharmos grandes, fortes, autossuficientes, poderosos, imbatíveis e invencíveis, devemos visitar um cemitério e contemplar quantos que foram assim antes de nós e qual seu final. Afinal, se a morte não faz sentido, a vida também não faz. Que possamos, todos, ser mais benevolentes com nossos semelhantes.



Samuel Bonette

3 comentários:

augustomarquesadore@gmail.com disse...

Texto bom mano!
Apenas acho que poderia ser menos coloquial, ou formal...
Não sei, acho que fica menos sisudo.

Mas está ótimo.

Ivone disse...

Para mim, como mãe, é gratificante ler e ver tua linha de pensamento! Pareceu-me estar lendo texto de grandes pensadores que tem seus nomes registrados em galerias...........Mas na verdade estou lendo texto de um grande pensador, crítico cristão que sabe o que está falando! Muito bom! Siga aprimorando teus pensamentos, opinião e construindo assim um mundo melhor!

Samuel Bonette disse...

Obrigado pelas palavras, pessoal!!!