Acho interessante o
humano, a forma como se comporta e atribui valor as suas coisas. Vejo que
começa as coisas de forma simples, para atender uma necessidade na maioria das
vezes, vai aperfeiçoando e tornando isto mais elaborado até que, o que surgiu
de uma simples necessidade se torna objeto imprescindível e de valor
inestimável.
Posso citar diversos
exemplos; um deles: o ser humano precisa se locomover; para isto, tem pernas e
pés. Obviamente que precisa protegê-los, e isto era ainda muito mais necessário
nos primórdios, quando não havia estradas como temos hoje, muito menos
pavimentadas. O que havia era floresta, e só. Para se locomover, precisava
proteger seus pés de eventuais ferimentos. Deve ter começado a fazer isto com
folhas, madeiras, couro de animais mortos, enfim.
Ao longo do tempo, foi descobrindo materiais
mais adequados para fazer seus calçados. Após, desenvolveu calçados diferentes
para terrenos diferentes, temperaturas diferentes, etc. Um dia, alguém deve ter
feito um calçado muito bom, e como chamou a atenção dos demais, para que não
roubassem dele põe-no uma marca para reconhecê-lo. Uma vez que não poderia
roubar, outrem ofereceu algo em troca, e o primeiro entendeu que poderia obter
vantagens com isto.
Passado os anos, surgiram
Nike, Adidas, Puma e outras tantas marcas que, mais do que atender a
necessidade inicial de proteger os pés, transformou o calçado em objeto de
desejo ardente e a necessidade já não é mais proteger os pés, mas sim ter o
calçado da marca X, Y ou Z. Como efeito cascata, se o fulano de tal é famoso e
usa tal marca, obviamente que muitos buscarão comprar daquela marca, porque o
dito usa aquela marca. Isto acontece com
roupas, esportes, calçados, carros, comida, perfumes, eletroeletrônicos e por
aí afora com tudo o mais que me ocorre no momento.
Diria que isto é glamourização.
Glamour, segundo o site Priberam On-line, é: “beleza sensual, considerada
característica de certas figuras públicas elegantes do mundo do espetáculo;
qualidade de quem ou do que é elegante, charmoso e considerado sedutor”. Entretanto,
é interessante pensar que o glamour não é inato, mas sim definido socialmente.
Ele não existe por si só, mas por meio das pessoas que acreditam nele.
Claro que para isto
contam determinadas características universais como simpatia, carisma, beleza e
outras mais, mas o glamour é um construto social, uma vez que aquilo que é
considerado glamouroso em um local pode não ser em outro; diria que a adesão
das pessoas em aceitar, divulgar, propagandear, reproduzir e venerar determinados
padrões, comportamentos ou atos torna aquilo glamouroso. Em última análise,
vende-se a ideia de que algo vai te fazer ser melhor que és. É um comércio de
ideias e conceitos, e não de produtos em si.
Por outro lado penso que
esta glamourização deturpa o sentido principal de existência das coisas.
Utilizando-me do glamour, posso fabricar um produto de péssima qualidade mas
fazer um comercial espetacularmente bonito e colocar um famoso a divulgá-lo.
Vai vender que nem água. Neste caso, a necessidade inicial fica de lado, mas o
meu glamour pessoal está sendo plenamente obtido. Então, que se danem os pés,
legal é estar na moda.
Samuel Bonette
2 comentários:
Rsrs... Nossa, muito bom!
Obrigado, Mykarlla!
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