Jesus nasceu lá em Belém / e no meu coração também.
Enquanto pensava como começaria meu discurso deste
ano, este versinho me vinha à mente com insistência. Eu nem lembrava que há
dois anos comecei meu discurso com este versinho e só descobri porque, ao
procurar o discurso de 2015, o encontrei lá. Pensei em não citá-lo novamente
mas, sabem? Não há problemas em repeti-lo, porque é “bonitinho” e também uma
verdade.
Alguns cristãos mais ortodoxos demonstram certa “má
vontade” com o Natal e apresentam principalmente dois motivos, para tanto:
1. Se
apegam à data, falando que esta não é exatamente o dia que Jesus nasceu, e que
só é comemorado neste dia por uma convenção católica; falam ainda que esta data
era tradicionalmente uma data de festividades pagãs que foi substituída “à
força” por uma data cristã; ou
2. Dizem
que o Natal não é tão importante porque é apenas o nascimento de Cristo e a
data que realmente importa é Páscoa, quando ocorreu a morte de Cristo e
consequente ressurreição e nossa redenção.
Mas sabem, meus amigos e irmãos, o que penso sobre
isto? Se a data não é exata – e até acredito nisto – pouco importa: é
necessário uma data para comemorar e esta foi a escolhida. Se ela foi posta em
uma data de festividades pagãs? Melhor ainda: remimos um dia de festa a Satanás
celebrando o nascimento de Cristo!
Sobre a data ser “menos importante” que a Páscoa,
discordo, porque seria injusto comparar as datas. Se a Páscoa é a celebração de
seu sacrifício para nossa redenção, o Natal é a celebração do melhor presente
que a Humanidade já recebeu: o início da vida de um Deus em forma humana.
E que vida, meus amigos, que vida! Ao mesmo tempo
que Ele era Deus encarnado, Ele era um mero mortal. Jesus não sonegou sua
humanidade e a Bíblia nos mostra com clareza o quão humano Jesus era.
Quando criança, foi criança: arteiro, saiu viajar
com os pais e se perdeu deles no meio da multidão; nem se preocupou se
precisava voltar para casa ou se seus pais quase morreriam de preocupação.
Já adulto, foi a uma festa de casamento. Ele tinha
amigos, sua família tinha amigos. E Ele estava lá, simples humano no meio de
todos os outros, festejando o casamento de amigos. E, ao demonstrar sua
natureza divina, nesta festa, o que Ele fez? Transformou água em vinho. Vinho
mesmo, não era suco de uva ou qualquer outra coisa semelhante, era vinho, a
bebida alcoólica. #ficaadica, dona Ivone.
Aliás, Ele
gostava de uma festa! Festa era com Ele mesmo! Era tanto que seus inimigos
chamavam a Ele e seus discípulos de beberrões e comilões. Os mais exaltados o
chamavam de endemoninhado, ao que Ele respondeu com certa ironia: “Como assim?
Se eu fosse endemoninhado, vocês acham mesmo que eu expulsaria demônios? Um
reino dividido não subsiste.”
Também percebo ironia e um pouquinho de provocação
na conversa dEle com a mulher samaritana: “Mulher, vá chamar teu marido”. “Mas
eu não tenho marido”. Claro que Jesus já sabia disto; e ainda continua, dando
um tapa de luvas: “Disseste bem, porque já tiveste 5 e o que tem agora nem
marido é.” Apesar de sua humanidade, a sua divindade prevaleceu, e através
deste diálogo que tiveram, inúmeras pessoas foram alcançadas, naquele dia e até
hoje, pelo seu amor.
Quando seu amigo Lázaro morreu, Jesus ficou muito
triste e chorou. Não foi pequeno o seu choro: a Bíblia para tudo o que está
fazendo para dedicar um versículo exclusivo para registrar este fato, em João
11:35.
Ele também precisou de um tempo para ficar sozinho,
isolado do mundo. Não queria ninguém à sua volta. Tudo bem que ele usou este
momento para se conectar com seu Pai, mas não tinha ninguém na volta para
“encher o saco”. Quando este momento passou, o que Ele fez? Saiu correndo atrás
de seus amigos, e a vontade de estar logo com eles era tanta que até sobre as
águas Ele andou, a fim de alcançá-los.
Em diversas oportunidades, teve compaixão de outros
seres humanos; compaixão, aquela mistura de dó, pena, piedade, empatia e amor
pelo outro. Em um destes episódios, iniciou a tradição de crente gostar de
comer bastante, quando encheu a pança de cinco mil homens mais mulheres e
crianças – e ainda sobrou 12 cestos de comida.
Quando chegou a sua hora, teve angústia, tristeza e
acho que até um pouco de medo. A tensão era tanta que até discutiu com seus
amigos, porque eles dormiam ao invés de orar com e por Ele.
Mas, voltando um pouco, que vida Ele teve, meus
amigos, que vida! Tem como não celebrar este nascimento? Quando Ele nasceu,
teve festa no céu, teve coral de anjos, teve uma estrela exclusiva para Ele,
teve boi, teve vaca, teve jumento, teve pastores, teve manjedoura, teve reis
magos, teve ouro, teve incenso, teve mirra, teve de tudo de um pouco.
E o que nós podemos aprender com a vida dEle? Inúmeras
coisas! Algumas delas que me ocorrem agora: que, a exemplo desta vida de
Cristo, também temos esta dubiedade e completude de vida dentro de nós: somos
totalmente humanos, mas temos Cristo morando em nós, alterando alguns cantos
obscuros da alma, comportamentos, nos dando alegria, nos ensinando a gostar de
uma festa, a tomar um vinho de vez em quando, a sentir alegrias e tristezas,
valorizar os amigos, às vezes fazer umas zoeiras, não sonegar nossa humanidade
e também não nos deixar ser dominados e consumidos por ela, enfim, tendo vida
em abundância, como Ele prometeu que teríamos.
Acima de tudo, com a certeza de que, haja o que
houver, do jeito que somos, do jeito que Ele nos fez, Ele nos ama. Ele te ama.
Só há vida dentro desta verdade. Jesus nasceu lá em Belém, e no meu coração
também. Glórias a Deus por isto. Um Feliz Natal!
Samuel Bonette