Na vida, tenha cuidado com os encantadores de serpente.
Encantador de serpente é aquele cara que tem, sempre pronto, um
bom discurso. Ele sabe o que se espera que se diga naquele momento, ele sabe o
que é necessário fazer e, sem titubear, faz o discurso. Mas ele nunca faz o que
diz em seu discurso.
Outra característica do encantador de serpente é que ele normalmente
não diz “não”. Ele não se opõe. Ele não se expõe. Quando ele não concorda,
simplesmente silencia. Em raras oportunidades, tenta direcionar para o que ele
quer, como se estivesse dando uma sugestão. Mas, por trás dos panos, sempre
mente, engana, distorce e manipula as situações conforme quer.
O encantador de serpentes também sempre tenta ser o boa praça.
Sempre parece estar sendo positivo ou buscando “tornar as coisas leves”. Ele
evita tensões, discussões, “tenta” achar o meio termo, enfim, ele quer sempre
ser o queridão.
O encantador de serpentes também sempre sabe algo que você não
sabe. Ele sempre conta histórias ocultas, muitas vezes com personagens ocultos,
e lhe dá uma visão da realidade que você não consegue verificar, devido à falta
destes dados ou porque é algo muito constrangedor para se perguntar.
O encantador de serpentes também parece entregar o resultado,
mas se você olhar atentamente, ele não faz nada ou faz muito pouco. Ele está
sempre vendendo sua imagem como um bom profissional, como quem faz acontecer,
mas precisa do serviço árduo de outras pessoas para fazerem aquilo que ele
vende (e não faz). Não raramente ele surrupia suas ideias – ou seu trabalho – e
apresenta como sendo dele.
O encantador de serpentes, assim como qualquer pessoa, não
consegue enganar a todos, o tempo todo. Quando sua máscara está prestes a cair,
ele sempre toma atitudes para denegrir o seu delator. Não hesita em mentir,
inventar histórias e até mesmo usar de violência para destruir aquele que se
opõe a ele. Ele buscará uma forma de tirar aquela pessoa do seu caminho.
Entretanto, a atuação de um encantador de serpentes é
conveniente e útil para diversas pessoas – as serpentes, aqueles que se servem
das suas habilidades. Com estes, o encantador sempre terá uma relação com
dinâmica subserviente e jamais o enfrentará.
Seu “usuário", a serpente, por sua vez, o utilizará o tanto quanto
for útil, imporá humilhações quando não se sentir contente por sua atuação e,
ao sabor de sua vontade, o descartará. Entretanto, seu encanto será sempre
irresistível e ele buscará outro encantador de serpentes.
Pobre encantador de serpentes... será sempre um medíocre – mas encontrará
novamente quem precise dos seus serviços – e assim o ciclo reinicia.
Samuel Bonette
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